quarta-feira, fevereiro 16, 2005

João Aristóteles


Eu sei que talvez tenha posto a fasquia excessivamente alta, mas , que diabo, estando o País neste estado e sendo tão elevada a probabilidade de ser o PS a ganhar as eleições, não é lógico que esperemos mesmo muito daquele que nos é apresentado como o melhor, desse partido, para tal função?
Sem nunca o ter achado brilhante, nem ter particular apreço pela entoação que põe no seu discurso, a imagem que guardava do eng. José Sócrates naqueles frente-a-frente televisivos com Santana Lopes, criara em mim a expectativa de que, se fosse capaz de se apresentar perante o eleitorado com ideias e convicções, o seu bom uso da palavra faria o resto.
Imaginei-o galvanizado para uma empolgante campanha eleitoral que lhe permitisse explorar o enorme descontentamento gerado pela desastrosa acção de PSL e apresentar um arrojado programa de reformas onde fosse perceptível o sacrifício a pedir e as contrapartidas expectáveis.
Mas não foi nada disso que aconteceu!
Sócrates decidiu seguir caminhos tortuosos. Deixou no prestamista as suas convicções, única receita possível para o sucesso da empresa a que decidiu pôr ombros, e foi aos saldos às Novas Fronteiras. E fez um figurão! Experimentou uma série de boas peças e nem reparou que não lhe vestiam bem. Depois foi um acumular de erros. Mandou encurtar um pouco as mangas daquele sobretudo a que queriam chamar choque e mudou-lhe o nome para plano. Subiu a baínha daquelas calças e mudou o botão do colarinho da camisa e depois achou que aquele “1 em 2” não se ajustava bem e deixou de usar. Com a cor daquela gravata foi outro bico de obra, e começou a defender que não precisava de a usar com casaco nenhum. As camisas que tinha guardadas para o efeito eram, na sua grande maioria o que precisava para seu governo! E foi um constante esconder, de tudo e de todos, não fosse alguém não gostar.
Agora aí está.
Prisioneiro das suas ambiguidades, já sem tempo nem jeito para mudar de estilo, José Sócrates arrasta-se penosamente para uma vitória que já lhe não diz nada, porque sabe que vai, com as ideias que lhe venderam nos saldos, ao encontro de uma glória que já percebeu efémera

4 comentários:

armando s. sousa disse...

Penso, infelizmente para os portugueses, que José Sócrates nãos está preparado, nem de longe nem de perto, para a responsabilidade que lhe vai cair nas mãos, isto é ser o primeiro-ministro de Portugal. Começou com chavões fortes, como pontos chave da sua campanha, e neste momento está a fazer o caminho que ele sabe fazer melhor, ir para a direita do espectro político.Não espero nada de bom para Portugal.

Politikus disse...

Grande verdade. Portugal presica do que não tem... Políticos sérios e com garra.

Ricardo disse...

Eu vou dar o benefício da dúvida... posso estar a ser ingénuo mas compreendo que quando a vitória é oferecida de bandeja é complicado arriscar ...

Dia 20 vê-se se a estratégia era a melhor ou não...

Pedro F. Ferreira disse...

Sabe, quando, lá pelos jardins de Academus e de Liceos, Sócrates ganhou... eu torcia para que ganhasse o outro... o Manuel Platão. Mas naõ me deram a dialética de ser alegre.